segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
Natal Sem O Papai
Dezembro De 1969
Aquele natal seria o primeiro que papai não iria passar com a gente, já fazia um ano que ele estava na guerra, papai já não era mais o mesmo, eu, mamãe e irmãos recebiamos apenas o salário que o exército nos pagava, mas as cartas de papai eram muito simples e com o tempo foram ficando bem curtas, a última que ele tinha mandado, era avisando que nos mandava o dinheiro do suíno do natal.
Ficamos arrazados com a notícia e ainda mais quando a nossa vizinha perdeu o marido, ele era amigo de papai e estavam juntos no mesmo pelotão, ela estava grávida e quase perdeu o bebê, mamãe e seus quatro filhos à consolaram. Lembro que ela gritava alto e repentinamente: - Malditos Vietnamitas! Malditos Vietnamitas!...Eu nem sabia do que se tratava pois era bem jovem, mas mesmo sendo novo, era o homem da casa quando papai estava ausente, meus dois irmãos eram bem pequenos.
Uma vez meu pai me disse que seu maior medo era ter que atirar em alguém, hoje e entendo o que ele sentia e fico triste, ele era velho e foi os últimos dos reservistas, ele me falava sempre que a vida era para ser vivida e não exterminada, que tinha medo de perder um membro em uma mina ou a sua própria vida. Mamãe está chorando desde manhã, arrumando a casa e preparando o porco se esvaindo em lágrimas, está segurando uma foto antiga deles em seu peito, abraço ela e digo que a amo e nunca irei abandonar ela, ela me beija e todos nós nos abraçamos, naquele clima de natal mas sem o papai
segunda-feira, 4 de maio de 2020
Luzes Da Noite
Eu tenho tentado te ligar, eu estou sozinho há tempo demais, talvez você possa me mostrar como amar, pois estou passando por abstinências, você nem precisa fazer muito, você pode me enlouquecer com apenas um toque. Olho ao redor e a cidade do pecado está fria e vazia, não há ninguém por perto pra me julgar, eu não consigo ver direito quando você vai embora, as luzes me cegam, eu não posso dormir até sentir o seu toque, estou me afogando na noite, quando eu estou assim, você é a única em quem confio. Estou ficando sem tempo, já posso ver o sol iluminar o céu e então eu pego a estrada em alta velocidade e vou embora para casa
segunda-feira, 27 de abril de 2020
O Sol
Não sei por que, não sei como, pensei que te amava mas agora não tenho certeza, tenho visto você olhando para estranhos muitas vezes, o tipo de amor que você quer é diferente, lembre-se de quando sentimos o sol, um amor como o paraíso quão quente queimava, uma ameaça de trovão distante, o céu estava vermelho e por onde você andasse, você sempre virava a cabeça de todo mundo. Eu pensava que quando brigávamos a culpa era minha, mas agora sei que você pratica um jogo diferente, tenho observado você dançar com o perigo, querendo ainda mais, acrescente um outro número à contagem, quando você olha ao redor, você se pergunta, você joga para ganhar ou você é apenas uma má perdedora?
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020
Soldado
Eu acabo de ser enterrado, desço ao mundo do silêncio e ouço a melodia do meu novo mundo, saímos todos sem dar adeus, o adeus é seco e frio, meu corpo velho se esvai, eu menti para todos que eu conheci, não conheci a vida e todos os dias que eu vivi eu morri, apodreci um bocado, vejo milhões de faces e não consigo reconhecê-las. Eu era um soldado, minha família era pobre, meu pai era demente e minha mãe religiosa, meus dois irmãos eram minha única família, a bíblia no criado mudo se perdia à teias de aranha, as canecas de café sujas de poeira, o meu coração era fraco, a morte sempre dava as caras, na guerra eu matei muitos, aquelas almas vinham me aterrorizar quase todos os dias...algumas até sabiam o meu nome, tentei várias vezes mudar, mas o outro lado "a passagem" é e sempre será o nosso lugar
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020
A Casa Que Era De Minha Família
Nesta casa a felicidade era infinita, era quando a minha família era unida, aonde eu e meus familiares vivemos tantas coisas todos reunidos, dos meus brinquedos, das armadilhas para passarinho que meu vô me ensinava fazer, da comida deliciosa que minha vó fazia, dos pães caseiros (ah que saudade ainda sinto o cheiro), as tias, minha mãe e minha vó sentadas na mesa tomando café e conversando, eu e meu irmão brincando no chão da cozinha e as vezes embaixo da mesa também, dos pés de goiaba e jabuticaba carregados em frente à porta da cozinha, do natal em que nós não tínhamos uma árvore de natal, mas mesmo assim a família improvisava com um galho de árvore, do quintal de terra vermelha e muitas folhas, Mad Max na tv com os tios, a cama dos avós toda arrumada com a colcha de retalhos, ao lado um criado mudo com a bíblia, na penteadeira da vó um espelho, escova de cabelo e pentes, muitos perfumes e um guarda roupa, o leiteiro trazendo o leite ainda quente no portão, o vizinho com seus cavalos e da vez em que tomou um coice na boca do mesmo, a galinha na água fervendo na panela para o almoço de domingo, o macarrão da vó era (o macarrão) o molho de tomate era delicioso, as brincadeiras no quintal eram ao lado de meu irmão, meu fiel companheiro, o carroceiro passava toda sexta, para pegar a lavagem do galão que a vó deixava separado, as vezes íamos ao Tonicão com meu pai e tios, a gente gostava de escorregar com papelão nos barrancos do estádio, essa vila é tão incrível, essa casa era tão linda e hoje já nem existe mais, só restaram as lembranças e a saudade
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