segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Stalin

Era final de fevereiro de 1953, lembro que fazia muito frio, nevava e ventava muito forte, morávamos no sótão de uma antiga mercearia, pois éramos muito pobres, papai trabalhava em uma carvoaria e o dono da mercearia (também amigo de meu pai) nos deixou morar até as coisas melhorarem, passávamos fome quase sempre, na casa tinha uma janela que dava para ver a rua e um dia quando eu olhei para fora eu vi ele, camarada Stalin, ele sorriu dobrando o bigode e se agachou para nos olhar da janela, limpou o vidro embaçado do frio e foi até a porta, meus pais foram até ele, eu não ouvi o que eles conversaram, mas vi Stalin abrir o seu sobretudo e tirar um pão caseiro enrolado em papel para espantar a nossa fome e uma garrafa de vodka para espatar o frio dos meus pais, meus pais iam se ajoelhar mas Stalin não deixou, abraçou eles e acenou com a mão para eu e meus irmãos e foi indo embora...aquela foi a última vez que o vimos, ele morreria de uma hemorragia cerebral nos arredores de Moscou, lembro que papai e mamãe choraram muito, “Glória eterna ao camarada Stalin”.