quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O Recomeço

As árvores molhadas, o cheiro de selva molhada e terra molhada, a natureza ensopada, o chão virou um rio imenso, a minha casa não existe mais, minha mulher e meus filhos, assim como eu e milhões, estamos ilhados, o cheiro já não é mais de água, o cheiro é dos mortos e dos corpos em decomposição, o cheiro da morte gruda no nariz e dificilmente sai, é como o cheiro da carne na churrasqueira ou do frango no forno, só que esse cheiro é um cheiro insuportável, com ele vem vidas, com ele vem a dor, com ele vem o medo, com ele também vem as doenças, o vento o carrega e deixa tristeza infinita, caminhões com corpos, caminhões com mantimentos, caminhões com armamentos, caminhões com destroços, vida do zero, nós e o nada

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O Amigo

Um senhor de idade com o seu chapéu de palha e o seu cigarro de palha, eu jovem de calçados velhos e roupa suja de terra, ajudando ele a capinar o jardim de outrora, flores diferentes e coloridas, cheirosas e grandes, ar puro e árvores do tamanho de prédios, barulhos de ferramentas, cheiro de grama e fungos, borboletas de asas grandes, ele tira seu chapéu e abana o calor, enclina os braços e me dá um saquinho com algumas moedas, dá uma tragada grande no cigarro de palha e continua a capinar, me diz que sua vida sempre foi árdua e que sua família sempre o descriminou por ser jardineiro, vi seus olhos se encherem de lágrimas, disse também que jovens como eu são raros, acompanho ele até sua casa, após o dia todo de trabalho, sua casa é em uma árvore gigante, bem grande, ele me convida para tomar leite com bolachas, lava o rosto e as mãos, eu faço o mesmo, ele coloca a toalha em uma mesa de madeira, fecha seus olhos e faz uma oração, agradece pela sua vida, pela comida e por minha compainha naquela tarde, olhamos algumas fotos antigas que ele tinha, rimos de algumas e ouço minha mãe me chamar, ela agradece ele de longe com as mãos e ele o mesmo, tomo um banho, me deito e fico ali pensando em tudo e refletindo