quarta-feira, 29 de abril de 2015
Dias Nublados
Em um dia nublado nós nos olhamos, em outro dia nublado nós nos conhecemos, em outro dia nublado nós nos beijamos, em outro dia nublado nós nos amamos, em outro dia nublado nós casamos, em outro dia nublado nós tivemos nosso filho, em outro dia nublado nós sentimos muito frio, em outro dia nublado nós vimos os aviões bombardeando nossa cidade, em outro dia nublado nós sentimos dores por causa das bombas nucleares, em outro dia nublado nós nos engasgávamos pela fumaça, em outro dia nublado nós tossíamos muito, em outro dia nublado nós fomos atendidos pelos soldados da cruz vermelha, em outro dia nublado nós vimos o nosso filho morrer, em outro dia nublado nós nos abraçamos pela última vez, em outro dia nublado eu vi você morrer, em outro dia nublado eu enterrei nosso filho e você, em outro dia nublado eu vi nossa cidade desaparecer, em outro dia nublado eu mesmo assim levei flores para vocês
segunda-feira, 27 de abril de 2015
Culpa
Você usa a culpa como correntes em seus pés, como uma auréola no inverso, há uma dor, uma penúria no seu coração, um doer para ser livre, todas as luxúrias de amor estão aqui para você e eu, quando nossos mundos caírem, quando as paredes virem a desabar, traga suas correntes, seus lábios de tragédia e caia nos meus braços
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Floresta
Tire seus sapatos e ande comigo pelo chão da floresta de musgos, estes lugares fora de todos os limites que buscamos, você gosta da minha pele...então explore-me, sob o teto da floresta sombria, mova-se fazendo, mais cedo que pensamos, um dia interminável passa, nesses momentos nós negamos, então agora andamos nús sobre espinhos e no final estamos todos rasgados e machucados, além de toda essa solidão, o vento sopra através de seu cabelo e seu corpo tão sedoso, deriva para longe à luz da floresta que está morrendo e você desaparece de vista
Aberração
Era uma festa cheia de pessoas, a polícia veio em peso ao saber de um corpo enterrado a alguns dias, se tratara de um homem alto, de trinta e poucos anos, carros chegavam e as pessoas se aglomeravam, crianças brincavam em meio a terra suja com pedaços de carne humana e vermes, os pés de todos sujos e contaminados, ele era um rapaz bom, mas sua carne era podre, a escavadeira cavava e os vermes e moscas saiam em disparada contorcendo-se, um líquido escuro começa a pingar para fora do buraco, cheiro de podre e carniça pairava na terra, muitos curiosos permanecem, seu corpo estava em alto estado de decomposição e só restara o pano que o fora embrulhado e suas tripas, ossos e cabelos, os vermes permaneciam em seus restos, as pessoas queriam pedaços de sua carne, canibalismo começara ali, a polícia o protege da população faminta, as crianças choram desesperadas, o caos prevalece ali, o caminhão chega para levá-lo, a polícia descarrega suas armas na população saqueadora e comedora de cadáveres, colocam seus restos em um balde grande, lacram-no e levam para ser cremado, o caminhão pipa chega e todos olham o motorista jogando água, no buraco que ali o corpo permanecera, a população começa a pular, pensando ali ser uma piscina pública, todos se banham como no rio ganges, a imprensa olha com susto tamanha aberração, um trampolim é colocado e bóias e diversão fazem a alegria de todos
O Tempo
O vazio de ouro fala comigo negando a minha realidade, eu perco o meu corpo, eu perco a minha mente, eu sopro como o fluxo do vento, como o vinho, por um corredor de fogo eu vou voar tão alto novamente, tem alguma coisa errada comigo, eu não posso ouvir, eu não posso ver, Então você acha que o tempo é passado, a vida que você leva é sempre dura, fusões caóticas de sua alma lá embaixo, através das nuvens um céu aberto, o vento flui através de seus olhos, os sons são lançados para atraí-lo, em uma jornada sem fim, no limite do tempo
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